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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 25 (parte 2 de 2)

Parte final de minhas anotações sobre o artigo de Lewandowsky et al. 2012.

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Lewandowsky et al. 2012. Misinformation and its correction: continued influence and successful debiasing. Psychological Science in the Public Interest 13(3): 106-31. DOI 10.1177/1529100612451018.

Reduzindo o impacto da desinformação
Até o momento, três fatores foram identificados como aumentando a eficiência das retratações.
a) Alerta pré-exposição
>Avisar destacadamente que o que virá a seguir é uma desinformação; o aviso deve apontar para os efeitos da desinformação e não apenas dizer que fatos falsos estão presentes;
>O alerta pode induzir estado de ceticismo, permitindo as pessoas a maximizarem suas habilidades em discriminar entre informações verdadeiras e desinformações;
>Aviso após a exposição é menos eficiente, mas ainda pode ter algum efeito: possivelmente por eliciar um processo de monitoramento estratégico de avaliação da validade da informação/desinformação recuperada automaticamente;
b) Repetição de retratações
>Repetições podem ajudar a diminuir, mas não eliminar o efeito da desinformação;
>Mais eficientes para casos de exposições reiteradas de desinformação;
>Sem efeito sobre exposição única a uma desinformação;
>Repetição de correção pode, no entanto, diminuir a eficácia da própria correção: 1) efeito do 'protesto excessivo' ('protest-too-much') reduz confiança na veracidade da correção, 2) repetição da desinformação na correção pode aumentar a familiaridade com o dado errôneo.
c) Preenchendo lacunas: fornecendo uma narrativa alternativa
>Oferecer uma explicação causal alternativa preenche lacuna deixada pela retratação da desinformação: p.e. "não havia cilindros de gás nem tintas a óleo, mas havia material para incêndio criminoso";
>A explicação alternativa deve ser plausível, dar conta de importantes qualidades causais dos relatos iniciais e, idealmente, por que a desinformação foi tomada como correta em primeiro lugar;
>A alternativa deve se integrar às demais informações da fonte inicial da desinformação;
>Se a alternativa for muito mais complexa do que a desinformação inicial, pode gerar o efeito de tiro pela culatra 'por excesso' ('overkill') de contra-argumentos;
>Em caso de correção de desinformações ligadas à política, a suspeita sobre o raciocínio e motivação por trás da correção e da desinformação inicial é importante na aceitação ou não da correção.

Usando desinformação para informar
A dissecção prolongada e cuidadosa dos argumentos errados pode facilitar a aquisição da informação correta.

Recomendações concisas para praticantes
.Considere que lacunas serão geradas no modelo mental das pessoas com a retratação e procure preenchê-las com explicações alternativas;
.Repita a retratação, mas cuidado com o efeito de tiro pela culatra com a exposição repetida da desinformação na retratação;
.Enfatize os fatos que quer passar em vez do mito que deseja refutar para evitar a familiarização com o mito;
.Forneça um alerta explícito antes de mencionar o mito para garantir que as pessoas se previnam e sejam menos influenciadas pela desinformação;
.Garanta que seu material seja simples e breve, use linguagem clara e gráficos quando possível,
.Considere se seu material não é uma ameaça à visão de mundo das pessoas, pois pode haver efeito de tiro pela culatra;
.Se apresentar indícios que sejam ameaças às visões de mundo das pessoas, procure apresentá-los de modo que reafirme essas visões de mundo (p.e. focando-se nas oportunidades e benefícios potenciais, em vez de nas ameaças e riscos) ou que encoraje a autoafirmação;
.Pode-se evitar o papel da visão de mundo focando-se em técnicas comportamentais como em design de arquiteturas de escolha (p.e. doação presumida x declarada) em vez de desenviesamento ostensivo.

Figura 1. Resumo gráfico das melhores estratégias para refutar uma desinformação. Tradução na Tabela 1. Fonte: Lewandoswky et al. 2012.

Tabela 1. Resumo das melhores estratégias para refutar uma desinformação.
Problema Soluções e boas práticas
Efeito da influência continuada
A despeito da retratação as pessoas continuam a confiar na desinformação
Narrativa alternativa
Explicações alternativas preenchem lacunas deixadas pela retratação da desinformação
Retratação repetida
Fortalecer retração pela repetição (sem reforçar o mito)
Efeito de tiro pela culatra por familiaridade ('Familiarity backfire effect')
Repetição do mito aumenta sua familiaridade, reforçando-o
Ênfase em fatos
Evitar repetição do mito, reforçar fatos corretos no lugar
Aviso pré-exposição
Alertar antes que o que virá é uma desinformação
Efeito de tiro pela culatra por excesso ('Overkill backfire effect')
Mitos simples são cognitivamente mais atrativos do que refutações complexas
Refutação simples e curta
Usar poucos argumentos na refutação do mito - menos é mais
Incentivar ceticismo saudável
Ceticismo a respeito da fonte de informação reduz a influência da desinformação
Efeito de tiro pela culatra por visão de mundo ('Worldview backfire effect')
Indícios que ameaçam uma visão de mundo podem reforçar crenças inicialmente mantidas
Afirme a visão de mundo
Enquadre os indícios de um modo a afirmar a visão de mundo endossando os valores da audiência
Afirme a identidade
Autoafirmação de valores pessoais aumenta a receptividade da audiência


Direções futuras
Pontos cujos papéis no efeito da desinformação ainda necessitam de mais esclarecimentos:
a) emoção;
b) diferenças individuais: raças, cultura...
c) rede social

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